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Derrota de opositor é início do fim do chavismo

By Jason Marczak

O Diretor de Política da AS/COA Jason Marczak escreve para o jornal O Estado de São Paulo sobre os desafios da oposição venezuelana para se manter unida até as eleições estaduais de dezembro.

Se a oposição venezuelana conseguir se manter unida, a eleição de domingo não será lembrada como uma derrota total, mas como o próximo passo na construção de um novo futuro para a Venezuela. A campanha de Henrique Capriles teve como base a projeção de uma nova alternativa, na criação de um futuro segundo o modelo brasileiro de crescimento econômico com inclusão social; para Chávez, os próximos seis anos são a oportunidade para consolidar a sua revolução bolivariana. Chávez conquistou 55,1% dos votos, mas o desempenho de Capriles foi melhor do que o do candidato de oposição anterior, com o apoio de 44,2% dos venezuelanos.

A diferença entre os dois futuros é marcante. Desde 1998, Chávez tem utilizado todos os recursos possíveis do Estado para arregimentar apoio, fornecendo subsídios para alimentos, habitação, combustível e assistência médica para os venezuelanos. Antes das eleições deste ano, as despesas públicas, pagas com as receitas provenientes dos altos preços do petróleo, aumentaram 30%. A nacionalização dos setores de telecomunicações, energia elétrica e petrolíferos rapidamente consolidou sua vitória em 2006 e a sua conquista na eleição pode significar uma extensão do controle estatal a novos setores.

No plano internacional, a integração da Venezuela no Mercosul poucos meses antes da eleição foi usada na campanha do presidente para convencer os eleitores de que o país não ficou mais isolado sob o seu governo.

Enquanto descrevia Capriles como o candidato das oligarquias, Chávez se apresentava como um seguidor do modelo de governo dos presidentes brasileiros Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O líder da oposição citou o sucesso de um modelo em que os programas sociais continuam e até expandem, mas também se tornam mais eficazes com objetivos de desenvolvimento mais claros. Ao mesmo tempo, Capriles, que teve o apoio de 6,47 milhões de venezuelanos, procurou passar a mensagem de que o crescimento no longo prazo e a capacidade para continuar financiando os programas sociais devem ter por base a diversificação econômica e incentivos para os investimentos e a inovação.

A eleição terminou, mas o alto índice de participação do eleitor (81%) mostra que muitos venezuelanos querem mudanças. Sim, Chávez venceu, mas usando os poderes do aparelho estatal - TV e emissoras de rádio públicas - para levar sua mensagem, aumentando os subsídios e ameaçando funcionários públicos de demissão caso não apoiassem o presidente.

Capriles não conseguiu aparecer na TV durante 47 horas, nem usou recursos do Estado para oferecer benesses. Aqueles que tiveram a coragem de desafiar o presidente e votaram no seu oponente o fizeram com a esperança e a possibilidade de um novo caminho para a Venezuela.

O fato é que depois de mais de uma década de disputas e uma contestação descoordenada do governo Chávez, a oposição esteve unida nessa eleição. Capriles, de 40 anos, e uma nova geração de líderes mudaram a dinâmica eleitoral.

Como resultado, ele conquistou 2 milhões de votos a mais do que o concorrente de Chávez nas eleições de 2006. O desafio da oposição é manter o ímpeto dessa eleição. Ela terá seu primeiro teste nas eleições estaduais de dezembro.

Chávez agora deve governar um país onde a vitória não está mais assegurada e onde os venezuelanos estão mais seguros para opor-se às suas iniciativas políticas. Resta ver se isso vai resultar na consolidação da sua revolução bolivariana ou num passo à frente no caminho da moderação.

Mas as iniciativas adotadas no passado fomentam o temor de mais uma guinada na direção do socialismo do século 21. Se suas ações se tornarem mais radicais, a resposta do Brasil será monitorada em razão de suas relações cada vez mais estreitas com a Venezuela e com a comunidade global, observando para ver que tipo de liderança o país assume. 

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