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Carin Zissis fala à Carta Capital sobre a popularidade de Claudia Sheinbaum

By Clarissa Carvalhaes

"Apesar de existir machismo, os mexicanos estão muito acostumados a ver mulheres ocupando posições de poder", diz editora-chefe da AS/COA à revista.

Há sete meses, Claudia Sheinbaum tem mostrado luz própria. Eleita presidente do México com as bênçãos do antecessor, o popular e controverso Manuel López Obrador, a cientista e ambientalista mantém alta sua popularidade – 75% de apoio, segundo o instituto Buendía & Márquez –, após uma vitória incontestável nas urnas, a maior em 40 anos.

Com uma agenda doméstica focada em justiça social, desenvolvimento econômico sustentável e fortalecimento das instituições democráticas, Sheinbaum investe em uma linha direta com a população e não se intimida diante das ameaças de Donald Trump. O adiamento por um mês da aplicação de tarifas de 25% sobre os produtos de seu país exportados para os Estados Unidos, anunciadas anteriormente pelo republicano, foi uma vitória da paciência e da altivez da mexicana diante da truculência do Grande Irmão do Norte. [...]

Muitos são os fatores associados a essa confiança. Desde os primeiros dias no poder, Sheinbaum passou a utilizar um modo de fazer política típico da extrema direita: ela conversa diariamente com os eleitores pelas redes sociais. Todos os dias lives são publicadas em seus canais e podem ser acompanhadas ao vivo pelo YouTube. Nas chamadas “conferências matinais”, os jornalistas são convidados a fazer perguntas, ministros apresentam balanços e a presidente, sempre de forma didática, dá ao eleitor o que interessa. Presta contas do uso do dinheiro público e detalha as promessas de campanha efetivamente cumpridas ou em andamento.

Carin Zissis, editora-chefe do Americas Society/Council of the Americas (AS/COA), site que hospeda conferências públicas e reuniões privadas e não oficiais para debater a América Latina, avalia que a fragilidade da oposição no México é um fator crucial para explicar a alta popularidade da presidente, mas não impede a eleita de se esforçar para exercer um mandato conciliador, o que torna o apoio a ela quase unânime, sobretudo quando o assunto é política externa. “Ela se comunica de forma eficaz com a população, mantendo coletivas de imprensa diárias que ajudam a controlar o debate. Embora não seja considerada carismática, sua postura direta e preparada conquistou a confiança dos eleitores.” Além disso, prossegue Zissis, a presidente mexicana soube diferenciar-se em questões como o feminismo, promovendo uma agenda mais inclusiva para as mulheres, o que levou à redução das tensões com os movimentos sociais.

México, apesar de ter uma cultura e uma percepção de ser muito machista, também tem leis de paridade de gênero muito sofisticadas. Potencialmente, é das mais sofisticadas do mundo e uma das maiores taxas de paridade de gênero no planeta. Apesar de talvez existir machismo em um nível cultural, os mexicanos estão muito acostumados a ver mulheres ocupando posições de poder.” A estrada que Sheinbaum tem a trilhar ainda é longa e repleta de percalços. Só o futuro há de comprovar se as esperanças depositadas pelos mexicanos serão correspondidas. Até agora, no entanto, a presidente tem feito jus à confiança popular. E desponta como uma liderança promissora do campo progressista.

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